Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Volume 31 - A volta ao mundo em 80 dias - Julio Verne

Dentre os livros escritos por Júlio Verne, A volta ao mundo em 80 dias talvez seja o mais famoso dentre até mesmo aqueles que não são leitores costumazes. Originalmente publicado em 1872, o livro conta a grande aventura empreendida por Fíleas Fogg de dar a volta ao mundo em 80 dias.

Fíleas Fogg é um aristocrata cuja vida é calma e extremamente regrada. Mais do que isso, a própria personalidade de Fogg é rígida e, aparentemente, não se altera por nada. Ele tem hora determinada em seu dia para acordar, vestir-se, fazer a barba, ir para o clube, almoçar, ler os jornais, jantar, jogar uíste com os amigos, retornar à casa, deitar-se e dormir.

Ocorre de, em um belo dia, discutir-se no clube a (in)viabilidade de realizar uma viagem em torno da Terra, chegando ao mesmo ponto ao cabo do tempo discutido. Sempre atualizado com as mais novas opiniões publicadas nos jornais londrino, o elegante e calmo senhor inalteradamente argumenta que, com base em matemática, e contando-se com os imprevistos, é perfeitamente possível empreender tal aventura, e por isso aposta vinte mil libras -- metade de sua fortuna -- que é capaz de realizar tal empreita. Uma vez acordada a aposta, Fíleas imediatamente dirige-se à sua mansão para informar ao seu empregado, o francês com o sugestivo nome de Jean Passepartout (mais conhecido como Fura-Vidas), contratado naquele mesmo dia pelo senhor Fogg, que deveriam partir imediatamente. O percurso prevê o seguinte caminho: Londres, Suez, Bombaim, Calcutá,Hong Kong, Iocoama, São Francisco, Nova York, e finalmente Londres novamente.

Se não bastasse a grande viagem em si, com riscos de acidentes e atrasos, a aventura torna-se ainda mais emocionante porque Fogg é confundido com um ladrão de bancos, e o detetive Fix decide-se a segui-lo através dos países, sempre esperando encontrar, no próximo posto, uma ordem de prisão para que possa prender Fogg. Esta, sempre atrasada, faz com que a viagem vá cada vez mais adiante, ainda que Fix tente retardar esta viagem através de artimanhas.

Dentre a série de aventuras, uma das maiores é o resgate de uma indiana que, morto o marido, é obrigada a participar do funeral deste e ser queimada ainda viva na pira funerária. Aouda é seu nome, e Fura-Vidas, imbuído do espírito heróico de Fogg, o protagonista deste romance de aventuras, consegue resgatá-la. A fuga dá-se por elefante, por trem, por quaisquer meios por terra e água, o que certamente dilapida a fortuna de vinte mil libras que ele carrega para esta viagem, durante a qual a moça resgatada paulatinamente apaixona-se por Fogg, sem que este demonstre qualquer sentimento além de educação e constante cortesia.

Ora, dá-se que, ao chegar na Grã-Bretanha, após tantas peripécias, Fix finalmente o retém com sua ordem de prisão, e por isso, Fogg permanece numa cela. Somente quando Fix descobre que o verdadeiro ladrão havia sido preso três dias antes é que o aventureiro Fogg vê-se liberto, mas sem chance de chegar a Londres em tempo de cumprir a aposta. É neste momento que ele se acredita pobre, e é justamente quando Aouda revela seu amor, oferecendo-se como esposa ao homem que finalmente confessa amá-la. Fogg não se dá conta, entretanto, que ao viajar em sentido leste, "ganhou" vinte e quatro horas, pois a cada grau avançado economizou quatro minutos do dia. É Fura-Vidas que descobre o fato, e arrasta-o ao Clube Reformador exatamente no minuto em que havia tratado de estar de volta, e a ordem se restabelece, terminando o romance no fim esperado.


Já comentei neste blog, por ocasião das resenhas de outros livros de Verne, acerca da genialidade do escritor, e ele não deixa por menos em ousadia e construção de narrativa com altos e baixos. Vários outros são tão maravilhosos quanto este, como é o caso de Cinco semanas em um balão e Da Terra à lua. No entanto, dos três títulos do famoso escritor francês publicados na coleção Clássicos da Literatura Juvenil, este é o que, do ponto de vista de inventividade, é mais modesto: não invade a terra, não percorre os oceanos, não perfura o pólo sul, mas de forma bastante eficaz faz uso da imagem cristalizada da cultura e da personalidade britânica.

Por outro lado, não deixa de apresentar a narrativa onde há um protagonista metódico e científico, um auxiliar forte e corajoso, contratempos, muita aventura, e o amor de uma linda mulher. E, no que diz respeito a esta estrutura e às emoções do livro, Verne não deixa por menos e imortaliza sua obra, numa época em que a volta ao mundo feita em 80 dias era realmente algo impraticável. Pensem o leitor e a leitora, por exemplo, no que seria viajar pela selva da Índia, através de estradas de ferro não terminadas, correndo o risco de serem atacados por tribos tanto ali na Índia quanto nos Estados Unidos, onde os indígenas se viam -- aqueles que haviam sobrevivido ao extermínio e à fome -- sob forte pressão para defender sua cultura e seu território. Obviamente, hoje a mesma viagem pode ser realizada, segundo meus cálculos, em um tempo absurdamente menor -- contando imprevistos e viagens de metrô, ônibus ou trem, cerca de uma semana, a um custo inicial de 20 mil libras (atualizadas) para os mesmos três passageiros, excluindo-se lembrancinhas e imprevistos, como os inúmeros subornos que Fogg paga para que se acelere a viagem, sempre que possível. Mas, certamente, ela não teria o charme e o sabor desta que encantou gerações inteiras de leitores e espectadores de teatro e, como é de se esperar, cinema. Resta ao leitor e à leitora, pois, conferirem-no.

Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Julio_Verne



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