Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Volume 40 - Heidi - Johanna Spyri




Heidi é uma das poucas obras alemãs dedicadas ao público infantil e juvenil que figura na coleção Clássicos da Literatura Juvenil. Escrito por Johanna Spyri e publicado em 1880, a história trata de uma garota órfã que vai morar com a tia mas que, por falta de recursos financeiros, acaba sendo enviada à casa do avô, nos alpes suíços. Ali, conhece um outro estilo de vida e faz amizade com Peter, o pastor de cabras.

Dos cinco aos oito anos, Heidi não só cresce feliz e sadia, no ambiente pastoril de uma Suíça alpina oitocentista, em um casebre pobre, mas distribui sorrisos a todos a quem conhece e principalmente amor ao avô que, antes, havia passado anos e anos amargurado, de mal com o vilarejo, cujos habitantes nada faziam além de suposições e fofocas a seu respeito. Isso porque, vindo do estrangeiro com um filho pequeno, não se comunicara com ninguém, e o isolamento fôra-lhe prejudicial após a morte de seu filho.

Aos poucos, Heidi -- que, na verdade, chama-se Adelaide, como a mãe falecida -- conquista o avô, mas ela se vê repentinamente presa nos planos de sua tia Deti, que volta para buscá-la e colocá-la como pequena dama de companhia de Clara, uma menina de doze anos que mora em Frankfurt e é paralítica, e cujo pai é um viúvo muito rico que raramente fica em casa. O período de conhecimento da cidade grande e do processo de adaptação de Heidi tem seus momentos engraçados, na fala de um narrador onde tudo nos alpes é grandioso e muito iluminado, mas onde tudo na cidade é triste e sombrio, numa construção de atmosfera feita muito claramente para construir contrastes de ambientes. Embora Heidi goste muito de Clara e eventualmente aprenda com ela e com a avó dela muitas coisas boas e práticas, Heidi definha silenciosamente de saudade dos Alpes e de seus amigos e avô, até que o pai de Clara retorne de uma viagem de negócios e perceba o que está acontecendo com a menina.

Uma vez de volta às montanhas, Heidi visita seus amigos e leva-lhes presentes. Dentre eles, o maior é a habilidade de poder ler para a avó de Pedro, porque a velhinha, já cega, sente falta dos hinos religiosos. Na esteira da formação cristã protestante alemã, a autora constrói a trama, e assim a história preferida de Heidi é a do filho pródigo, numa clara alusão ao avô.

Do mesmo modo, o processo de alfabetização, tal como narrado, faz bastante jus ao que conhecemos dos métodos dos séculos XVIII e XIX, antes da grande reforma em prol das crianças pobres. Aqui, qualquer vadiagem ou negação a aprender, por qualquer que seja o motivo, é ameaçada. Há versos que ensinam o alfabeto na base da ameaça, e esse modelo era na época tido como um grande modo de ensinar às crianças.

O terceiro momento é reservado à série de visitas que o médico da cidade, a avós de Clara, o api de Clara e a própria Clara fazem aos Alpes um ano após o retorno da menina às montanhas. Ali, por conta do extremo cuidado do avô para com a mocinha e também devido ao ciúme de Pedro, que já não pode ficar com Heidi só para si durante od ia inteiro, a cadeira de rodas é empurrada para despencar morro abaixo, numa tentativa de fazer com que a menina vá embora. O feitiço, porém, vira-se contra o feiticeiro, e Clara conta com a ajuda de Pedro e de Heidi para começar a andar.

Nesse romântico claramente instrucional, o avô reconcilia-se com Deus e com a sociedade, a paralítica volta a andar, o pai que perdeu uma filha ganha a companhia de outra criança, e Heidi se vê financeiramente amparada pelo médico e pelo pai de Clara. Costurando a trama vem a figura da avó de Clara, que ensina o poder do amor, da fé e do perdão de Deus para com seus filhos. É isso o que este romance, que inaugura uma categoria no gênero infantil e juvenil, faz: prende-nos a um sonho já não possível de cumprir, e onde a realidade é mais perfeita do que nós mesmos esperamos. Se, de alguma forma, ela nos resgata da realidade crua e fria de hoje, com tantas opções e sem ninguém em quem confiar para deixar a porta de uma casa aberta, ela cumpre seu papel histórico e ideológico.

Fonte de informações sobre a autora: http://pt.wikipedia.org/wiki/Johanna_spyri

2 Comentários:

Blogger Myrtita Kras disse...

Nossa, que achado...voltei uns 35 anos no tempo pelo menos...só pela imagem das capas...Usei teu blog como referência para este resgate...muito grata. Lembro do cheiro, da textura e como, só pela capa, eu já ficava imaginando as histórias. E Heidi foi o primeiro livro "de gente grande " que li. Muito bom...felicidades pra ti e sucesso

11 de novembro de 2010 às 16:32  
Blogger D'brandão. disse...

Meu nome é Heidi por causa desse livro! Ele é lindo e a história te segura de uma forma magnífica! Comigo a força foi maior pois o meu nome está no livro, rsrsrs!

28 de outubro de 2012 às 23:30  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial