Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Volume 46 - O corcunda de Notre-Dame - Victor Hugo


Em 1831, após décadas de turbulência política, Paris estava sob a falsa impressão de que tudo estava bem, e que o povo estava satisfeito com os resultados obtidos pela Revolução Francesa e, depois, pelo governo de Napoleão Bonaparte. Mal sabia o país que eles estavam somente e alguns anos de distância de 1848, quando estourou a Comuna de Paris. Numa palavra, a Europa -- e a França, em grande parte -- sofreu com as numerosas mudanças de configuração política do século XIX. Nos salões, as conversas giravam em torno de futilidades, pois o medo de que se falassem coisas "sérias" demais que justificassem uma turbulência política e social era grande. Reduzia-se o mundo às aparências, então.
Talvez, deva-se a esse contexto o surgimento de O corcunda de Notre-Dame, conhecido em francês como Notre-Dame de Paris. Publicado naquele ano, o romance de Victor Hugo -- a coleção Clássicos da Literatura Juvenil publicou, em 1973, dois romances seguidos de Hugo -- retorna ao ano de 1482, quando Paris era governada por Luís XI. Naquela época, a cidade não contava com uma polícia organizada, e a guarda era feita por fidalgos que apoiavam o rei. Em meio a uma população de pobres, maltrapilhos, abandonados, ladrões, prostitutas e ciganos, Paris abrigava a realeza, e seu centro religioso e político ficava na ilha em meio ao rio Sena. Ali, localizava-se o Palácio da justiça, onde o rei ficava quando saía de sua casa, e a Catedral de Nossa Senhora (a homônima Notre-Dame de Paris).
Era na catedral, em frente à praça principal, que se encontravam todas as camadas sociais. Ali o rei frequentava a missa, ali as pobres mães e os covardes pais de filhos ilegítimos depositavam seus filhos na roda dos enjeitados. Foi nessa roda que, um dia, apresentaram uma criança de 4 anos, com defeitos físicos, que mal se comunicava. Tinha uma corcunda grande, cabelos ruivos espetados numa cabeça desproporcional ao corpo, braços muito compridos e pernas arqueadas. Apiedando-se do garoto, o pároco Claudio Frollo tomou-o como filho e o criou dentro da catedral.
A história tem início quando um escritor tenta encenar um auto para o rei -- aliás, bastante irônico, da parte do autor, já que o auto era em si uma representação metonímica da situação econômica, política, social e religiosa de Paris --, mas os estudantes da universidade de Sorbonne não o permitem, porque em seu único dia de "folga" das restrições educacionais e morais, aproveitavam e faziam a folia de reis, em que elegiam aquele que fizesse mais careta como rei do povo e com ele desfilavam em torno da praça. Sucede que Quasímodo, o jovem corcunda calado, participa das folias e, por sua feiúra, é eleito o rei dos bobos e do povo, e se vê num papel invertido: ao invés de fugirem dele, reverenciam-no, ainda que às risadas, e o leval em cortejo. Durante o passeio, encanta-se com Esmeralda, a jovem cigana que dança e faz com que sua cabra realize truques, e vai preso justamente por tentar protegê-la dos insultos que ela sofre por ser cigana. É importante esclarecer ao leitor e à leitora que, além de todo o preconceito contra os ciganos que ainda existe hoje, somava-se à lista o de que eles eram bruxos e mantinham pacto com o demônio.
Numa confusão muito grande, Quasímodo é preso pelo fidalgo Febo de Chatêaupers, e Esmeralda se vê apaixonada pelo seu salvador. O jovem rapaz, porém, nada vê além da beleza de Esmeralda, e nada quer além de aproveitar-se da inocência da jovem, já que ele mesmo está comprometido com uma prima sua. Nesse ínterim, o poeta fracassado se vê preso, fugido, condenado à morte por ladrões, salvo por Esmeralda, e então solto novamente.
As ligações entre as personagens são esclarecidas à medida que a trama evolui, e o narrador revela que Esmeralda não sabe de sua origem verdadeira, porque quando era pequena foi roubada pelos ciganos. Mesmo assim, continua em bsuca da mãe, e apresenta-se de vila em via com sua cabra. Naquele lugar, duas pessoas em especial a odeiam: uma velha mulher penitente, que procura sua filha roubada pelos ciganos há muitos anos, e o pároco Claudio Frollo, que se apaixona perdidamente por ela e acredita que isso acontece por obra do diabo. Claudio tenta a todo custo fazê-la apaixonar-se por ele, mas uma vez que a cigana está perdidamente apaixonada por Febo, suas tentativas são em vão. Sem que o poeta saiba, Claudio o usa para que a cigana seja presa por feitiçaria e seja enforcada.
Quando Esmeralda é colocada na praça, Quasímodo salta da torre da catedral e a resgata, levando-a para o interior da igreja. Naquela época, aquele território era como a Suíça, como uma embaixada, e ninguém tinha o direito de tirá-la de lá -- nem Frollo, nem os ladrões, nem os ciganos, nem mesmo o rei. Quasímodo cuida dela com desvelo e mantém distância para que não a assuste, mas não é o bastante: cego pela loucura e pela paixão, Frollo a tira da igreja e, rejeitado pela última vez, entrega-a à guarda real.
O final é previsível: a velha penitente descobre que a cigana Esmeralda é sua filha e se arrepende por tê-la odiado e incentivado sua morte, e morre; Esmeralda é enforcada; Febo casa-se conforme o previsto; e Quasímodo, o herói marginalizado de Hugo, que com esta obra acusa a sociedade e a igreja, desaparece para ser encontrado, dois anos mais tarde, morto, ao lado de Esmeralda, no cemitério. Há, ainda, todo um contexto de jogadas com os malandros da cidade, que desempenham um papel muito importante na trama: são eles que, na tentativa de libertar a cigana, incendeiam a catedral de Paris, mas esta é uma subtrama que eu deixo ao leitor e à leitora para que a interpretem. A esta altura do blog, sabem qual caminho trilhar para que possam compreender a magnitude da obra de Victor Hugo que, com esta obra, representou de forma majestosa e muito crítica a situação vivida na sua época, recorrendo para isso ao expediente de uma narrativa situada no século XV. Novamente, esta é uma narrativa mais "séria" dentro da coleção, mas, ao contrário da anterior, creio que encontra seu lugar dentro da série de leituras sugeridas por esta série de publicações da literatura universal adaptada aos jovens.
Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Hugo

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